Constituição e Construção
A história de muitas escolas alemãs no estrangeiro abrange também uma comunidade composta por pais, professores e alunos que, por razões pessoais diversas, se colocam perante a realidade económica, política e cultural de duas nações. Aos alunos do país de acolhimento e do país de origem deve ser proporcionada uma formação escolar coerente e válida em termos formais, que procura unificar, ou pelo menos pôr a trabalhar paralelamente, dois sistemas diferentes.
Elaborar um esboço sobre a evolução endógena e exógena de uma instituição como o Colégio Alemão do Porto nos últimos 100 anos não é fácil, por um lado por falta de material de arquivo completo e, por outro porque a retrospetiva de dados e acontecimentos escolares não passa de uma escolha que deixa transparecer uma imagem um pouco subjetiva do próprio autor. Por esta razão é tão necessária uma avaliação crítica como a compreensão e a intuição das especificidades de uma escola alemã no estrangeiro.
A imigração das mais antigas famílias alemãs iniciou-se nos anos 30 do século XIX. Para a educação das crianças contratavam-se preceptoras do país natal.
A maior parte das famílias dos comerciantes e transitários confessavam a fé evangélica do Norte da Alemanha. Na passagem do século organizaram-se numa comunidade, reunindo os seus esforços especialmente na construção de uma igreja Foi o Pastor Boit de Lisboa que tomou a iniciativa decisiva para a criação do Colégio Alemão do Porto. A par dos donativos da comunidade evangélica, a ajuda do Estado Imperial Alemão, no montante de 3,000.- Reichsmark anuais, foram os fundamentos para a construção deste Colégio. Finalmente os membros da comunidade comprometeram-se a apoiar regularmente a sua igreja e o colégio através de contribuições e donativos. Esta é a razão pela qual a comunidade evangélica, que a partir de 27 de Fevereiro de 1911 passou a estar associada à paróquia evangélica de Preuβen, aparece intrinsecamente ligada à história do Colégio Alemão.
Foi alugada uma casa de três andares na Rua da Restauração, O Pastor Martin Richter, que também habitava a casa foi o primeiro diretor do colégio. A 18 de Novembro de 1901 foram contratados dois docentes e dois auxiliares de educação para dar aulas a 18 rapazes e 3 raparigas. Para evidenciar o caráter alemão da escola, esta só era frequentada por alunos de nacionalidade alemã.
A língua alemã não era só a língua da sala de aula, mas também a língua falada correntemente. Uma vez que as famílias zelavam para que os seus filhos, antes de entrarem no colégio, já soubessem falar fluentemente alemão, eliminou-se em 1904 um curso especial de língua alemã.
Desde a fundação do Colégio Alemão que se deu especial valor à língua e cultura do país de acolhimento e, a partir de 1910, um docente português passou a lecionar as disciplinas de História e Geografia de Portugal. Até 1906 o Colégio só lecionava até ao sexto ano da escolaridade. Por esta razão, e a fim de dar prosseguimento aos estudos, os pais mandavam os seus filhos de apenas 11 anos para a Alemanha.
Em 1907 contratou-se mais um docente vindo da Alemanha, cujo ordenado foi financiado através de uma verba escolar extraordinária. Antes da primeira guerra mundial todos os docentes masculinos eram funcionários do Estado Alemão e permaneciam cerca de três a cinco anos no Porto. Eram solteiros, uma situação que favorecia o conselho de administração no pagamento dos honorários. As docentes pertenciam a famílias alemãs radicadas na cidade ou educadoras que depois do casamento tinham abandonado a sua profissão ao serviço do estado alemão.
Já naquele tempo havia diferenças de ordenados entre os docentes vindos da Alemanha e os docentes contratados aqui em Portugal, apesar do seu trabalho ser idêntico: o Pastor Richter ganhava 300 mil reis pelas suas funções de direção, para além do seu ordenado eclesiástico, o que perfazia anualmente a quantia de 900 mil reis. O docente Fröhling ganhava 600 mil reis e ambas auxiliares educativas dividiam a quantia de 290 mil reis anuais.
Numa reunião do Conselho de Administração em Junho de 1911, o Pastor Olbricht queixou-se de quase não conseguir subsistir com o seu ordenado anual devido ao elevado custo de vida no Porto. O diretor propôs passar a contratar pastores jovens e solteiros; desta forma o dinheiro que se pouparia através desta medida serviria para contratar um professor de línguas vivas.
Em 1905 a participação financeira do estado alemão serviu para cobrir unicamente o ordenado de um docente, todas as outras despesas foram comportadas pela comunidade alemã através de donativos e das próprias quotizações. À luz do financiamento do Colégio Alemão do Porto compreende-se a dependência dos docentes em relação ao Conselho de Administração e em relação a algumas famílias que os financiavam, Também se torna evidente o risco de um compromisso mais duradoiro para com um docente desconhecido. O corpo docente raramente faltava por doença e trabalhava 30 horas semanais. As aulas terminavam as 15.00 h.
Em 1909 o professor Alexander Geys foi o sucessor do Pastor Richter nas funções de diretor do Colégio Alemão do Porto. O Regulamento Escolar daquele tempo impunha aos alunos que mantivessem os livros e o material escolar limpo e em bom estado de conservação.
O bom comportamento era exigido não só durante os tempos letivos mas também no trajeto da escola, a escola deveria ser frequentada com assiduidade, o que nem sempre era possível a alguns alunos.
As aulas eram intercaladas por pausas lúdicas. Para despertar nos alunos a alegria no estudo, eram organizadas excursões botânicas. Visitava -se o moinho a vapor Corpo Santo, uma fábrica de cerveja e a tecelagem Jacinto. Aos sábados à tarde realizavam-se passeios aos arredores do Porto. Desde 1902 existia uma pequena biblioteca.
No final do ano de 1909 o Conselho Geral deliberou aceitar a inscrição de alunos de outras nacionalidades que deveriam pagar um valor de propinas mais elevado; em casos particulares o Conselho de Administração tinha a última palavra. Não era exigido que essas crianças possuíssem conhecimentos da língua alemã, nos níveis de ensino mais elevado seria obrigatório passar num exame de admissão. No dia 31 de Março de 1911, o Colégio Alemão registou 11 crianças portuguesas, no ano seguinte eram 19 crianças portuguesas, 4 de nacionalidade suíça e duas de nacionalidade austríaca; ainda foram admitidas uma criança norueguesa e uma criança francesa, perfazendo um total de 53 alunos.
No Outono de 1911 o Colégio Alemão mudou de instalações devido às melhores condições proporcionadas no edifício da Rua do Breyner. 112. Na mesma rua encontrava-se também no número 65 a sede da Comunidade Alemã que foi fundada no dia 27 de Janeiro de 1909 – dia de anos do Kaiser. Nesta data organizava-se anualmente uma festa na qual participava a maior parte dos membros da colónia alemã. O diretor do colégio alemão proferia um discurso, os alunos apresentavam um programa musical, recitais de poesia e danças, para os mais pequenos havia teatros de marionetas e números de magia. Quando o Príncipe herdeiro se casou no dia 8 de Junho de 1905, a colónia alemã realizou um passeio comemorativo ao longo do rio Douro até ao rio Leça num meio de transporte eléctrico especial. A colónia alemã tomou-se o centro de muitas atividades culturais e sociais. O Conselho de Administração deliberou, numa reunião do dia 4 de Outubro, que dois dos seus membros poderiam assistir a aulas sem qualquer aviso prévio.
A distância do país natal explica o empenho de muitos membros da colónia alemã do Porto em preservar tradições e costumes, tanto profanos como religiosos, que eram a expressão de uma ligação à pátria. O limiar entre a manutenção de uma identidade num país estrangeiro e uma postura nacionalista da parte dos alemães era indefinido. Assim, os feriados nacionais eram cunhados de grande dinamismo: no dia 27 de Janeiro festejava-se o aniversário do Kaiser e no dia 18 de Novembro a fundação do império alemão.
Os festejos do aniversário do Kaiser no ano 1905 foram registados pelos cronistas:
O maior número de alunos foi atingido no ano letivo de 1912/13 com 61 alunos, com a eclosão da Primeira Guerra MundiaI o número desceu para 53. No Outono de 1914 as aulas passaram a ser lecionadas na Rua da Boavista, 555 e, devido à falta de professores, houve a necessidade de juntar várias turmas. Depois da entrada de Portugal no conflito mundial, todos os alemães e toda a sua descendência até à terceira geração foram internados ou desterrados em Março de 1916; os seus pertences também foram confiscados. Muitos fugiram para a cidade espanhola de Vigo, outros permaneceram junto da fronteira em Tuy, nas margens do rio Minho, outros alemães partiram para Madrid e Barcelona.
O antigo diretor Geys assumiu em Vigo a responsabilidade de lecionar algumas disciplinas. Fräulein Auguste Münch, a antiga diretora da Hafesche Mädchenschule no Porto, lecionou Francês e uma antiga preceptora assumiu a disciplina de Inglês. A família Jordan de Lisboa arrendou dois quartos da sua casa a esta pequena escola no exílio. Cinco turmas sentavam-se em conjunto a uma grande mesa; para as turmas que não estavam a ter aulas havia trabalho em silêncio. Em Vigo esteve ancorado durante o período de guerra um barco a vapor alemão e um engenheiro do barco ofereceu-se para lecionar física. Depois do fim da guerra os alemães puderam voltar para o Porto, as aulas tiveram lugar, em pequenos grupos, em casa das famílias Burmester e Höfle, no centro do Porto e na Foz do Douro.
Até à nova inauguração do Colégio Alemão do Porto em Maio de 1922 ainda se passaram seis anos.
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